domingo, 15 de março de 2015

O mar que a gente faz

Era um menino que não sabia nadar e o mar feito à tona e à medida para gente que boiava sem esforço.
O menino chama-se Sargo e o mar não tem nome por ser grande e o que tem está esquecido no mapa. Sargo é nome de peixe e aí começa a história.
A família estava junta, como os irmãos quando se entendem, com o menino enrugado no meio. E esse menino ria e sorria como nunca um recém-nascido fizera. E a família ria e sorria, mas era um sorriso engelhado e um riso nervoso.
Porque ria tanto aquele bebé? Não tinha saudades do cordão? Não tinha saudades do útero mole e húmido como as alforrecas? Não, não tinha. Tinha um ar redondo e feliz e a família afeiçoava-se aos risos pequeninos. E de noite, quando os pais novos não podem dormir, ele embalava-os com sonos profundos e soninho às gargalhadas. 

Excerto do livro "O mar que a gente faz" de João Negreiros


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