quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Para lá caminho

Sou culpada de tudo o que sou.
Sou culpada de tudo o que sei.
Sou culpada de tudo o que é.
Sou culpada de tudo o que sinto.
Sou culpada de tudo o que digo.
Sou culpada de tudo o que faço.
Sou culpada de tudo o que penso.
Sou culpada de tudo o que quero.

A culpa é olharem para mim como se a tivesse?
A culpa é falarem comigo como se fosse?
A culpa é dizerem-me o que sou a mais? A menos?
Não, a culpa é deixar!
A única culpa que tenho é deixar!
Deixo que mudem o que aconteceu.
Deixo que inventem o que nunca foi.
Deixo que partam o que estava intacto.
Deixo que destruam o que é eterno.
Deixo que deturpem o que estava certo.

Eu vou, a partir de agora, inventar a verdade.
Vou, na verdade, saber o que fiz.
Vou, na verdade, saber que fiz bem porque foi o melhor que consegui.
Vou, na verdade, saber que a culpa só existe para quem a sabe como uma certeza.

Eu sou boa pessoa porque não bato, não mato, não roubo, não humilho, não castigo, não insulto, não nada.
Tudo o que sou é dar o que tenho, fazer o que posso, dar-me a quem quero, viver com quem me devolve o ar que respiro.
Eu sou boa como quem pode sair andando por qualquer rua sabendo que, se quiser, ninguém inventará curvas ou becos para mim, porque para a verdade não tem nada que saber… é sempre em frente. Seguir em frente quando há estradas estranhas onde virar é dizer a quem espera nelas que sei o caminho de cor como tudo onde fui.
A verdade é continuar até parar quando quiser num sítio onde está quem me dá razão, quem acredita em mim e quem tem a certeza que não fui eu que fiz por mal porque o mal já existia antes de mim, não fui eu que o inventei.
O bem também já existia antes de mim, mas tenho andado a praticá-lo e a fazer melhorias nele e estou a pensar registar a patente de tudo o que inventei de bom.
Farei coisas boas até sempre. Sou culpada dessas. Das outras não, as outras deixo para quem acha que as fiz.

Com a certeza de que a verdade é minha calco mil desculpas e sei que não sou perfeita mas… para lá caminho.

Texto de "O Manual da Felicidade" de João Negreiros

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